Sinto-me culpada por muitos amores.
Apenas metade do Eu quer extirpar a culpa,
a outra metade quer continuar a ser livre.
Apenas metade do Eu se rende,
enquanto a outra metade cria obstáculos,
procura escapar.
Sou juiz severo de meus atos,
julgo meus pensamentos,
minhas intenções,
minhas imprecações secretas,
meus ódios secretos.
As sementes de muitas vidas,
lugares,
muitas mulheres dentro de mim.
Um rubor invisível de vergonha
queima-me como febre.
A inocência desaparece de meus atos.
Não consigo afugentar a loucura.
Quando a vida me acorrenta,
sempre dou um jeito de escapar.
Não posso jamais seguir um único amor.
Uma febre confessional
força-me a levantar um canto do véu.
Passo sem passaporte,
nem licença,
de um amor para outro.
Destruo a vida comum.
Minha boca mente.
Minha escada leva ao incêndio.
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