quarta-feira, 1 de junho de 2011

FRAGMENTOS

Perco partes vitais de mim.
Onde quer que eu esteja,
estou em infinitas peças
sem ousar juntá-las.
Fragmentos voam aqui e ali.
Fragmentos minúsculos de meus atos.

Quantas vidas existem em mim,
na capacidade de enganar a mim mesma?
Minha necessidade de saber
suplanta meu terror de descobrir.
Acima de mim,
acima de meus fragmentos,
discerni uma onda de lamentos.

Lamentos que ressoam como vento lento,
famintos de amor e de sangue,
famintos de minhas entranhas,
                que tanto revelam,
                quanto ocultam.
Fraturas e fissuras reveladoras
de um eu fragmentado.
Fracassou minha busca do fogo
para soldar esses fragmentos,
que me transformariam em uma mulher total.

AMANHÃ


Uma manhã em que o sol não nascerá.
A vida estancará seu curso.
O dia não atingirá o meio do dia.
A chuva não cairá,
como não cairá a tarde.
Não haverá um pôr do sol.
A luz não iluminará sua esperança.
A água não saciará sua sede.
As cores se apagarão.
Não verás teu rosto refletido no espelho.
A música não soará em teus ouvidos,
nem o canto dos pássaros.
O vento não tocará teus cabelos.
Em tua alma se calarão as perguntas,
os desejos.
Não verás ninguém.
Deita-te,
dorme,
sonha,
amanhã o sol pode nascer de novo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MASMORRA


Temo as verdades que desvendei.
                Chega de paredes.
                De escadas exatas.
Minha ilusão se queima aos poucos.
Aceito a imperfeição.
Não posso viver totalmente,
o absoluto não existe.

Tudo é efêmero como um sonho.
Uma estranha ausência de vida.
A paixão reveste-se de uma carcaça de dor.
O vento se torna um soluço.
Tons de amarelo,
                ausência de sabor.
Preciso partir.
Meu suprimento de coragem está acabando.

Nunca sei o que deve ser jogado ao mar
para não sobrecarregar minhas asas,
para diminuir a exaustão de meu corpo.
Despencar no abismo de minha existência.
Não há nada de belo em minha dor.

quarta-feira, 30 de março de 2011

OLHOS NEGROS




Um olhar assustado,
vivo demais.
Uma alma apaixonada.
Um homem de olhos muito,
                   muito escuros.
Tem implícito o perfume do vinho.
O dom de extrair a essência,
                   a quintessência do sentimento.

Como uma pessoa com medo do silêncio,
despertou meus sonhos.
Perdi minha alma para a sua,
uma luminescência que eu jamais provara,
como a faca que corta o ar,
o mar que me porta à eternidade,
a música que me chama,
o cheiro de seu corpo que me alimenta,
a clareza das palavras,
o sopro fugaz da existência.

Corresponde à soma das coisas reais.
Retirou-me do caos negro com seu cinzel.
Apresentou-me a coragem de viver uma vida sem temor.
Hoje sou como Ícaro sem asas,
o desejo de voar é forte em mim.
As aventuras que minha imaginação deseja,
com todos os seus aspectos mutantes.
Assim que ele apareceu,
eu soube que sempre o amaria.
Perdemos nossas almas para a lua.



domingo, 6 de março de 2011

DOS SENTIDOS




Você carrega consigo um reflexo meu,
uma parte de mim
em sua sensualidade infatigável.
Amor sem pressa,
                   no entanto urgente.
Nenhum beijo jamais se perde.

Quando visto sua beleza
                   eu o possuo.
Seu ser sensual me afeta.
Quero penetrar o corpo que me atrai.
Quero cobrir minha cama com nosso desejo,
adivinhando cada pedaço de nós.

Você me ama com os olhos,
                   os sentidos,
                   as mãos.
Seus dedos firmes tocam minha intimidade.
Sinto meu corpo febril
e em meu calor envolvente,
você se expande,
mergulha em meus olhos e entra em mim.

Seu rosto me penetrando é singular,
                   a boca entreaberta,
                   as pálpebras semicerradas...
Descobrindo o mundo em cada sensação.
É uma penetração suave e sutil.
Uma nova violência no amor,
                   umidade,
                   unidade,
                                               orgasmo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

AMORES


 



Sinto-me culpada por muitos amores.
Apenas metade do Eu quer extirpar a culpa,
a outra metade quer continuar a ser livre.
Apenas metade do Eu se rende,
enquanto a outra metade cria obstáculos,
                procura escapar.

Sou juiz severo de meus atos,
julgo meus pensamentos,
                minhas intenções,
                minhas imprecações secretas,
                meus ódios secretos.
As sementes de muitas vidas,
                lugares,
muitas mulheres dentro de mim.

Um rubor invisível de vergonha
queima-me como febre.
A inocência desaparece de meus atos.
Não consigo afugentar a loucura.
Quando a vida me acorrenta,
sempre dou um jeito de escapar.
Não posso jamais seguir um único amor.

Uma febre confessional
força-me a levantar um canto do véu.
Passo sem passaporte,
                nem licença,
de um amor para outro.
Destruo a vida comum.
Minha boca mente.
Minha escada leva ao incêndio.